Fugacidade da vida


Era manhã de domingo, ainda estava eu na tenda, quando dei de caras com a situação no instagram. Ele tinha feito 20 anos recentemente, uns dias antes de mim aliás, portanto achei que se trataria de uma espécie de despedida de uma fase que ali terminará (pois já vi coisas do género nessas mesmas páginas e todos sabemos que quando chegamos aos 20 já nada é igual).
Inconscientemente passei do insta para o twitter, ainda não era hora de tomar o pequeno-almoço, e a loucura estendia-se às trends do mesmo. As tendências variavam entre "Cameron Boyce", "Como Assim", "Gente o Cameron", "Disney Channel", "Cancela 2019", "Rest in Peace", "Descendentes", "Disney" e "Jessie". Estava tudo relacionado à pessoa em questão (Cameron Boyce), aos seus projetos e à tragédia que eu começava a levar a sério. Não estava totalmente convencida e fui ao google averiguar. Foram dezenas os títulos para os quais olhei antes de precisar respirar fundo. Ele tinha 20 anos. A minha idade. Tinha morrido durante a noite vítima de uma convulsão. Senti o meu chão cair ou perto disso. O medo avassalou-me de uma maneira brutal.

Tememos a morte por não saber para onde vamos depois dela mas só pensamos que ela chegará perto dos nossos 80 anos porque é o que a ciência nos alega. Quando alguém conhecido e é da mesma faixa etária que nós o medo e a impotência tornam-se reais e maiores. Percebemos, nessa altura, que a vida é fugaz e não temos controlo nenhum sobre ela. Acredito que devemos gastar o nosso tempo com coisas e pessoas que valem a pena mas isto? Isto pôs-me a questionar se eu realmente fiz o melhor que podia ter feito com o meu tempo. Vi tudo o que fiz até hoje passar-me em frente aos olhos, vi o meu círculo de amigos e todos os planos que rejeitei. Arrependi-me de tudo o que fiz e de tudo o que não fiz mas sei que se tivesse oportunidade não o faria de outra forma. 


Passamos grande parte da nossa vida a culpar este e aquele por causa do nosso fracasso e perdemos pouco tempo a rir e a aproveitar o tempo que temos aqui com os nossos amigos e família. Temos tendência a pensar que somos novos portanto temos tempo mas a verdade é que não sabemos isso. A ciência dá-nos um espetro temporal mas não quer dizer que isso se cumpra. O Cameron fez-me ver isso. Ele fez-me perceber que se eu quero fazer alguma coisa e realizar alguns dos meus sonhos tenho de os fazer agora. E mais do que realizar os meus sonhos e fazer algo em concreto tenho de ajudar os outros. Ele tinha uma plataforma enorme e fez coisas enormes mas a mensagem que todos passam é a pessoa carinhosa, simpática e bastante terra a terra que ele era e que tratava todos da mesma forma e como iguais. Ele inspirou-me a ser alguém melhor e inspirou-me a criar algo que me transcende de formas que nem eu consigo definir. Há muito mais em mim, há muito mais no mundo graças a ele



Além do medo, da angústia, da saudade e do desconcerto que senti o Cameron fez-me ver que tenho de aproveitar o tempo que cá tenho e fazer dele algo bonito. Posso não influenciar milhões mas se influenciar dois esses dois depois podem se inspirar e influenciar milhões.
Sinto um vazio enorme deixado pelo Cameron. Não me sinto obrigada a isso mas sinto-o porque ele também me influenciou com cada sorriso, cada passo de dança, cada vez que cantava, cada filme ou série que fazia. Ele era mesmo uma pessoa extraordinária e eu sempre senti que o iria conhecer um dia. E embora esse dia não chegue posso me lembrar do Cameron como alguém que me tirava sorrisos genuínos, que me proporcionou a mim e à minha baixinha o nosso filme favorito e que, de cada vez que eu olhe para as estrelas, me lembre dele, da marca que deixou em mim, da inspiração que me deu para o Kevin e da esperança que me deu quando precisei.
Adoro-te Cameron

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